LACAN
Fundamentos, História e Estudos de Psicologia

LACAN


COSTA PINTO, Manoel da. A música da fala. In: O Livro de ouro da psicanálise. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007, 540 p.

...o ser humano nasce para um mundo de relações e, desde o início, quando se relaciona com alguém, nunca mais será o mesmo. A partir do momento em que ocorre uma experiência emocional, todo relacionamento implica uma modificação de todos que nelas estão presentes. P 320

O mecanismo da identificação projetiva está presente desde o nascimento e tem como base a fantasia de que certos aspectos do self estão situados fora dele, dentro do próprio objeto, de maneira que tenha a sensação de controlar o objeto desde dentro e que o projetor vivencie o objeto como parte dele mesmo. P 322

O desenvolvimento do ego ocorre mediante a introjeção de objetos que, quando integrados, são assimilados dentro do ego e sentidos como pertencentes a ele, sendo, em grande parte, também estruturado por esses objetos. P 322

Segundo a teoria Kleiniana, os fenômenos transferenciais são concebidos como externalização, no presente, do mundo interno. “Os neurótico já não são considerados seres que 'sofrem de reminiscências', mas pessoas que vivem no passado, representando pelas qualidades do presente imediato do mundo interno”, diz Meltzer. P 324

Ela descreveu o desenvolvimento do psiquismo como uma elaboração do conflito entre os impulsos de vida e de morte, com as pulsões de vida prevalecendo gradualmente sobre as destrutivas. Para ela, o conflito entre as pulsões de vida e pulsões de morte é o motor de todo o acontecer psíquico. P 327

Melanie Klein descreveu como os impulsos agressivos podem ser um instrumento para lidar com o desamparo que todo ser humano enfrenta no início da vida. P 328

Melanie Klein humanizou a psicanálise. Mostrou que é a emoção que dá significado e cor às experiências de vida. (...) os seres humanos vivem duas realidades, a externa e a interna, evidenciou quão necessário é o sentido da realidade psíquica, que seria a pessoa reconhecer e assumir responsabilidades pelos próprios impulsos e pelo estado de organização de sua mente. P 328


COSTA PINTO, Manoel da. A estrutura do psiquismo. In: O Livro de ouro da psicanálise. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007, 540 p.

O homem não se relaciona sempre com alguém de sexo oposto; ele não visa necessariamente o prazer sexual sem sofrimento; a sexualidade não precisa se expressar por meio dos genitais, mas pode ser praticada por meio de outras partes do corpo, adornos ou adereços; seu início não ocorre numa idade ou situação predeterminada; a sexualidade sequer tem de ocorrer na relação ou na presença de um outro ser humano, podendo se dar com animais, objetos ou mesmo com o próprio corpo e imaginação. P 335


É em nome desses desvios que Freud falou em pulsão sexual (sempre variável, portanto exercida de formas parciais) e não em instinto (padrão de comportamento próprio de cada espécie animal). A libido é o que penetra, percorre e marca o corpo, sinalizando-o pela premência de ser satisfeito. P 335

O desejo é sempre de outra coisa, que não complementa a imagem e não satisfaz as pulsões – o desejo pressupõe a falta. P 336

...as palavras de certo modo substituem e mantêm um tanto distante o inevitável horror que o limite da vida reserva a cada um. São elas que tornam simbolicamente suportável o vazio inevitável da falta, isto é, são elas que tentam fixar a pulsão a um representante, dando-lhe direção. P 338

...na sua fala, tropeça numa palavra, ou a troca por outra sem perceber, ou utiliza uma expressão que, por ter mais de um significado, produz no interlocutor uma impressão diferente da que tentara transmitir, eis aí o inconsciente em ação. P 347

A linguagem é a condição do inconsciente. O inconsciente é o discurso do Outro. O desejo do homem é o desejo do Outro. P 347

O século XX acabou e, na alvorada do terceiro milênio, o inconsciente se encontra sob fogo cruzado, atacado pelo capitalismo predatório, o mal-estar na cultura, a sociedade depressiva, as religiões totalitárias, o consumismo gozoso e o discurso da ciência, mais cego do que nunca. Lacan disse, alguma vez, que a psicanálise era um sintoma da civilização e que chegaria um dia em que essa última se curaria dela. Paranóia ou profecia ? p 349

COSTA PINTO, Manoel da. A psicose como paradigma. In: O Livro de ouro da psicanálise. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007, 540 p.

O pós-moderno se mostra na desestruturação dos saberes estabelecidos, no anonimato do modo de vida atual, produzindo laços sociais desarrumados e uma individuação extremada. P 350

O sujeito, vivendo em uma civilização condicionada pelo discurso da ciência e pela globalização do capitalismo, marcado pela ausência de ideais, corresponde ao fenômeno moderno da desaparição dos valores. Só há uma coisa que vale: a lei do mercado. O mestre contemporâneo é o mercado. P 351

Neste contexto, pode-se falar num sintoma moderno no qual o sujeito procura sua completude no consumo de objetos. P 352

Prescrever remédios ou promover o acesso a uma verdade é a causa do sofrimento? Pergunta que aponta para uma ética – porém não uma ética dos filósofos, mas uma ética da psicanálise, sugerida por Lacan nos seguintes termos: “Uma ética se anuncia, convertida ao silêncio pelo advento não do pavor, mas do desejo.” (Escritos) p 352

...para Lacan (como para os gregos), a loucura e todo o conhecimento humano também teriam origem no que é exterior ao sujeito; porém, no caso da visão que Lacan tinha dela, à diferença dos gregos, este exterior não seria constituído pela vontade dos deuses, mas seria o que é exterior ao conhecimento que o sujeito tem de si mesmo, numa referência ao inconsciente. P 355

O fenômeno da loucura é inseparável da subjetividade, “através do qual penso mostra-lhes que ela faz o ser mesmo do homem”. [...]. E o ser do homem não somente não poderia ser compreendido sem a loucura, como não seria do homem se, em si, não trouxesse a loucura como o limite da liberdade.” P 357

O louco é o verdaeiro homem livre, pois não precisa de outro, não precisa do semelhante para buscar a causa de seu desejo. P 359

O caso Aimée – investigado por Lacan na sua tese em psiquiatria com o rótulo de paranóia – consistia numa loucura de amor mortal por uma atriz de teatro que era como ela queria ser. Amor então por si mesma, amor pelo ideal que a atriz representava e que, ao mesmo tempo, marcava o que ela, Aimée, não era. [...]. A diferença que faz esta loucura ser adjetivada paranóica estaria no fato de ela procurar esta completude de si no corpo do Outro destruído, fazendo disto signo de união do seu próprio corpo. O paranóico precisa de sua vítima, testemunha p 359

BASTOS, Alice Beatriz B. Izique. A construção da pessoa em Wallon e a constituição do sujeito em Lacan. Petrópolis: Editora Vozes, 2003, 152p

(sobre o pensamento de Lacan) ....A razão de ser da constituição passa a ser procurada nas relações do sujeito consigo mesmo, do sujeito como um outro, dele com sua exterioridade. A atividade diante do espelho toma um sentido de uma pesquisa de si feita pela própria criança. (...). É por meio da imagem que o sujeito vai se constituir. P 93

(para Lacan) .... A criança não projeta no espelho a sua imagem, e o que ela vai introjetar é a imagem que a própria família construiu para ela. Com isso quero dizer que o que vai ser determinante na imagem especular é o seu caráter ilusório, falso, contornado pelos desejos e ideais alheios. É essa identidade alienante que marcará o psiquismo da criança, na medida em que ela vai ocupar o lugar do desejo dos pais e ao introjetar a imagem especular, ela passa a assumi-la como se fosse sua. P 103

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Penso que a psicanálise pode subsidiar a Educação, ampliando a visão do educador sobre os processos psíquicos, alertando-o para uma nova e revolucionária dimensão do sujeito humano, que é o inconsciente, o lugar no qual se produz um sentido mesmo sem sabê-lo. P 119

Uma situação bem comum nas escolas é aquela em que as crianças buscam repetidas vezes sair da sala para fazer xixi, como uma forma de escapar da monotonia das atividades e buscar prazer em outra coisa. Os professores, por sua vez, constatam o fato mas não admitem, e nem sequer tentam compreender, o que acontece na sala de aula que faz com que as crianças queiram sair a toda hora. P 120

Os adultos tentam interpretar as ações das crianças e tecem para elas uma série de expectativas e desejos. As crianças, por outro lado, jogam com essas imagens e acabam ficando capturadas por elas, acreditando que são o que os pais, os educadores, pensam sobre elas. P 120

Os educadores acreditam que, por terem um conhecimento teórico sobre as crianças, é possível conhecê-las e saber como pensam. Isso é um engano, pois cada criança tem sua singularidade própria, um jeito diferente de lidar com esse jogo de expectativas e de desejos. É por este motivo que é fundamental resgatar a palavra da criança, para possibilitar que ela venha a ser mais sujeito do que objeto. P 121

Lacan critica a Pedagogia e a Psicologia, pois acreditam no saber completo e total, no saber universal, diferente da Psicanálise, que reconhece que o saber é incompleto e que é tecido a partir da linguagem e da fala. P 121

Tanto a família como os educadores “jogam” suas expectativas em cima das crianças, que precisam ter chance de escapar desse aprisionamento, ou mesmo da classificação dos estágios de desenvolvimento, para assim poderem ter uma fala própria. P 121

A mesma criança “boazinha” precisa ter espaço para poder ser diferente, expressar um desagrado pela professora ou pela atividade sem deixar de ser reconhecida, mas em um lugar diferenciado. Ou mesmo o aluno que sempre faz bagunça, atrapalha os colegas, não se concentra, precisa ser ouvido, ter novas oportunidades para agir e se expressar de forma diferente, e não ficar rotulado como “o aluno chato que só atrapalha”. P 121-122

É importante demarcar que o educador deve respeitar as escolhas das crianças sobre suas ações, sobre as parcerias que procura estabelecer, ou não; e até pelo seu silêncio, que não deixa de ser uma forma de expressão. As interações são fundamentais, mas é necessário que a criança possa optar por ficar sozinha e desenvolver suas próprias ações, observações, ou um distanciamento momentâneo dos outros. P 123




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