COSTA PINTO, Manoel da. D. W. Winnicott: o homem e a obra. In: O Livro de ouro da psicanálise. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007, 540 p.
Teoria do Desenvolvimento, com um estudo pormenorizado da relação mãe-filho e das influências da família e do ambiente, postulando a interação de processos inatos de maturação com a presença de um ambiente facilitador, desde uma fase de dependência absoluta à independência humana. P 399
Winnicott escreveu que não existe um bebê se não houver uma mãe e, conseqüentemente, não pode existir uma mãe sem um pai, ainda que no imaginário da mãe e referido, eventualmente, ao próprio pai da mãe. Considero que a mãe só poderá exercer a preocupação materna primária se houver um pai suficientemente bom. P 401
COSTA PINTO, Manoel da. Constituição do si-mesmo e transicionalidade. In: O Livro de ouro da psicanálise. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007, 540 p.
Foi o trabalho analítico com esses pacientes, (...) de aproximadamente 60 mil crianças e suas mães (ele veio da pediatria), que permitiu a Winnicott formular um estado de não-separação inicial mãe-bebê, na fase de dependência absoluta da criança em relação aos cuidados maternos. Do seu ponto de vista só nos tornamos pessoa em virtude da relação com ouyra pessoa, como é o caso da relação mãe-bebê nos primórdios da vida. P 406
...o ser só é possível com outro ser humano. Durante esta fase, a continuidade do ser é o sentimento que resulta da fusão da mãe suficientemente boa com o bebê. P 407
Quando ocorre um fracasso materno, temos as invasões que provocam reações por parte do bebê. [...]. Invasões intensas e reiteradas levam à sensação de aniquilação do self e defesas do tipo falso self que encapsulam o núcleo do verdadeiro self. O indivíduo se desenvolve, agora, a partir da casca defensiva, com referencial alheio ao seu ser. P 407
“Para mim, o self, que não é o ego, é a pessoa que eu sou, que é somente eu, que possui uma totalidade baseada na operação do processo maturativo. Ao mesmo tempo, o self tem partes e é, na verdade, constituído dessas partes. Tais partes se aglutinaram num sentido interior-exterior no curso do processo maturativo, auxiliado, como deve sê-lo (principalmente no início), pelo ambiente humano que o contém, que cuida dele e que de forma ativa o facilita. P 409-410
COSTA PINTO, Manoel da. A devotada e seu bebê. In: O Livro de ouro da psicanálise. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007, 540 p.
Quando o cuidado materno mostra-se confiável, a “continuidade da linha da vida” do bebê se mantém, e ele experimente uma “continuidade de ser”, pois os processos de desenvolvimento de seu ego não sofreram excessivas perturbações emocionais ou físicas. Essa é a “base do ego”. P 423
As invasões do meio ambiente por falhas da mãe confiável constituem um trauma, pois levam o bebê a reagir ao ambiente, antes de ter conseguido desenvolver mecanismos psíquicos que possibilitam tornar previsível, isto é, antes que o bebê possa ter condições de considerar o que é bom ou mau no ambiente, como projeção sua. [...]. Num estágio posterior, com o ego mais desenvolvido, a criança passa a ser capaz de sentir raiva devido à falha de adaptação ambiental... p 424
Caso o meio ambiente não adaptado persista, maiores e mais intensas serão as reações do bebê. A hiperatividade da mente não consegue mais compensar as invasões do mio ambiente, ocorrendo estados confusionais ou deficiência mental aparente (sem lesão orgânica). P 427
Com base nos trabalhos de Freud e Melanie Klein, Winnicott considerava que a morte ou desaparecimento da mãe coloca a criança à mercê do ódio e da ambivalência, por predomínio de elementos persecutórios, que enfraquecem as forças benignas e amorosas. P 432
HEINZ KOHUT
Ele reconheceu que nosso narcisismo inato é parte essencial do desenvolvimento do self e que os processos narcisistas são essenciais durante todo o nosso desenvolvimento. P 72
Ele descobriu que a escuta empática profunda, e não a interpretação, era a chave para a cura. Na verdade, a interpretação, a intervenção psicanalítica tradicional, para o desenvolvimento do ego, só piora as coisas para o self. P 73
Todos nós conhecemos pessoas que só conversam sobre si mesmas ou sobre suas experiências, sem dar importância aos pensamentos ou sentimentos dos outros. P 73
O primeiro espelhamento, em que o bebê olha para a mãe e vê o seu próprio self refletido no olhar de prazer dela. No relacionamento de espelhamento, é como se o bebê dissesse a si mesmo: “Você vê o maravilhoso eu. Logo, eu sei que sou maravilhoso”. P 73
O segundo processo narcisista normal é a idealização, que começa quando a criança reconhece o genitor ou outra pessoa especial. Aqui as qualidades internas de seu próprio self – bondade, perfeição, onipotência, significado, um sentimento de realidade, etc. – são projetadas sobre esta pessoa de modo que a criança poderia dizer: “Eu vejo e estou próximo ao maravilhoso você; logo, eu existo e sou maravilhoso também”. Tanto na relação objetal de espelhamento quanto na idealização, a criança conhece o seu self com o auxílio do outro. P 73
Kohut chamou estas pessoas do espelhamento e idealização de objetos-do-self (Kohut, 1977) porque a criança os sente como uma extensão de si mesma. P 73
O processo interno de espelhamento conduz a ambições realistas no mundo apoiadas pelo elogio encorajador internalizado da mãe. De modo semelhante, quando o pai idealizado foi internalizado, a criança pode esforçar-se por ideais realistas. Estes dois pólos constituem o núcleo de um self saudável e geram as ambições e ideais profundamente sentidos que fornecem um sentido de propósito e significado. P 73
Entretanto, se ambos falham, os sintomas com os quais Kohut está preocupado – sentir-se irreal, vazio e sem significado – sobrevirão, pois não existe estrutura interna de self que possa produzir sentimentos de valor próprio. P 73
FRITZ PERLS
Fritz Perls sugeriu que qualquer aspecto do comportamento de um indivíduo pode ser visto como uma manifestação do todo – o ser da pessoa (F. Perls, 1978). Na terapia, por exemplo, o que o paciente faz – como ele se movimenta, fala, e assim por diante – fornece tanta informação quanto o que ele pensa e diz. Nossos corpos são representações diretas de quem somos. Pela simples observação de nossos comportamentos físicos facilmente visíveis e de nossa postura – respiração, movimentos -, podemos aprender muitíssimo sobre nós mesmos. P 76
Os neuróticos são incapazes de viver no presente. Eles cronicamente carregam consigo “questões pendentes” do passado. Uma vez que sua atenção se concentra no que não está resolvido, eles não possuem consciência nem energia para lidar plenamente com o presente. P 76
Fritz Perls via os sonhos como mensagens sobre situações inacabadas, incluindo o que estamos perdendo em nossas vidas, o que estamos evitando fazer... P 79
MELANIE KLEIN
Klein aprofundou a descoberta de Freud de que a agressividade e o amor atuam como forças organizadoras fundamentais na psique. A agressão divide a mente, enquanto o amor a une. P 69
Nossas experiências com pessoas importantes, tais como nossos pais ou primeiros parceiros românticos, tornam-se interiorizadas e depois estruturam nossa experiência não apenas dos outros, mas também de nossa própria identidade. Por exemplo, quando “cindimos” o mundo em bom e mau, também dividimos o nosso sentido de “eu” em aspectos de temor e desejo. P 70
COSTA PINTO, Manoel da. Significado de Melanie Klein. In: O Livro de ouro da psicanálise. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007, 540 p.
Sua apreensão do mundo interno infantil e das formas por meio das quais as emoções ali adquirem significado contribuiu para o entendimento da personalidade adulta, com seus núcleos infantis incrustados que persistem por toda a vida. P 222
Klein considera que a estrutura arcaica das emoções infantis, muitas vezes datada de um período pré-verbal, persiste ao longo de nossas vidas e interfere na mente adulta. P 222
“Sentir os pais como se fossem pessoas vivas dentro de seu corpo da mesma maneira concreta que profundas fantasias inconscientes são vividas. Isto é, se esses pais 'internos' se amam, se vivem em harmonia, desse mundo interior brota, de forma viva, um princípio de ordenação que ajuda a transformar o caos interior em cosmos. Por outro lado, se estão em guerra, em litígio, o caos se adensa e se aprofunda.” P 223
A mãe, ou sua representação parcial como seio alimentador, se constitui nesse sentido no primeiro objeto interno do bebê, podendo adquirir qualidades boas ou más, conforme a função exercida. P 223
Quando esta mãe a satisfaz, atendendo-a, contendo sua ansiedade, ela é internalizada como objeto bom, capaz de compreendê-la, cuidar dela e se forma fonte de segurança. P 224
Não apenas o passado histórico e as repressões acumuladas durante a vida que se tornam parte de nossa subjetividade e a perturbam. Antes mesmo da formação do ego e do superego do bebê, já existiria uma força negativa (pulsão de morte) atuando, gerando defesas contra ansiedades iniciais, que vão, aos poucos, se corporificado em estruturas. P 224
COSTA PINTO, Manoel da. A açougueira inspirada: O Livro de ouro da psicanálise. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007, 540 p.
...pode-se afirmar que as noções de “objeto externo” e de ‘realidade externa”, para Klein, referem-se à realidade tal como é percebida pelo sujeito, com as influências maiores ou menores das fantasias inconscientes. P 304
Talvez seja necessário, para entender o pensamento Kleiniano, que nos situemos num mundo que uma vez já foi o nosso, mas que por “crescimento” tivemos de “esquecer”. Crescimento e esquecer entre aspas porque nem de fato crescemos a ponto de não mais habitarmos em parte aquele mundo nem o esquecemos a ponto de não o reconhecermos aqui e ali, principalmente em nossos momentos mais intensos de angústia, odeio, amor, destrutividade, paixão e violência. Trata-se de um mundo “antes do mundo”, do despedaçamento daquilo que na realidade ainda está por se constituir, do amor e do ódio como sensações, de um pré-pensamento antes do pensamento, do prazer e do sofrimento inomináveis. P 305
Há uma canção de Chico Buarque e Milton Nascimento que fala sobre aquilo “que não tem medida, nem nunca terá”, nossas onipotentes e desmedidas paixões – amor, ciúme, controle, posse, ambição, inveja, raiva -, com seu caráter indomável, ilimitado e insaciável: “que não tem governo, nem nunca terá”. É um mundo de desejos que disparam à nossa revelia e ameaçam ultrapassar-nos, transbordando. Diante da autonomia dos “quereres” inconscientes, vindos de outro lugar e que nos marginalizam em relação àquele nosso “eu” mais bem comportado... p 307
O infantil é uma dimensão fora do tempo, um fundo ameaçador, dada a imensidão de sua demanda. Idioma primitivo que ainda não aprendeu a falar (infans quer dizer “o que não fala”) , faz um apelo de acesso à figuração, quer se formular a todo custo, quer se revelar. Existe no mais inconsciente recesso, secreto, pulsante, em todos os processos psíquicos e em todas as idades. P 308
A pulsão de vida expressa o investimento de amor: conduz ao movimento de colocar libido e interesse nas pessoas e no mundo. Do outro lado, a pulsão de morte corresponde à tendência mortífera de narcisismo, isto é, o apagamento e a dissolução de si e da importância e significado das outras pessoas; é a tendência a desprezar os outros, a tornar-se indiferente, a anestesiar a sensibilidade e a percepção das emoções, a embrutecer-se e fechar-se. P 309
Tirar o valor das outras pessoas, desprezá-las, revela o medo de sofrer e, como se sabe, “quem desdenha, quer comprar”. O alvo para o qual se dirige a inveja é o bom, o belo, o admirável dom de um artista, por exemplo. A inveja quer a posse imaginária da criatividade, da aptidão que a outra pessoa tem para gerar, daquilo que há de mais secreto e singular em cada um.... p 310
É uma autora que nos convida a deixar de lado nossos preconceitos estéticos e a necessidade de uma bela teoria e fazermos com ela precisamente isto: um movimento de rebaixamento, (...). “Rebaixar consiste em aproximar da terra, entrar em comunhão com a terra concebida como um princípio de absorção e, ao mesmo tempo, de nascimento [...] significa entrar em comunhão com a vida da parte inferior do corpo, a do ventre e dos órgãos genitais, e portanto, com atos como o coito, a concepção, a gravidez, o parto, a absorção de alimentos e a satisfação das necessidades naturais. P 311
COSTA PINTO, Manoel da. A música da fala. In: O Livro de ouro da psicanálise. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007, 540 p.
...o ser humano nasce para um mundo de relações e, desde o início, quando se relaciona com alguém, nunca mais será o mesmo. A partir do momento em que ocorre uma experiência emocional, todo relacionamento implica uma modificação de todos que nelas estão presentes. P 320
O mecanismo da identificação projetiva está presente desde o nascimento e tem como base a fantasia de que certos aspectos do self estão situados fora dele, dentro do próprio objeto, de maneira que tenha a sensação de controlar o objeto desde dentro e que o projetor vivencie o objeto como parte dele mesmo. P 322
O desenvolvimento do ego ocorre mediante a introjeção de objetos que, quando integrados, são assimilados dentro do ego e sentidos como pertencentes a ele, sendo, em grande parte, também estruturado por esses objetos. P 322
Segundo a teoria Kleiniana, os fenômenos transferenciais são concebidos como externalização, no presente, do mundo interno. “Os neurótico já não são considerados seres que 'sofrem de reminiscências', mas pessoas que vivem no passado, representando pelas qualidades do presente imediato do mundo interno”, diz Meltzer. P 324
Ela descreveu o desenvolvimento do psiquismo como uma elaboração do conflito entre os impulsos de vida e de morte, com as pulsões de vida prevalecendo gradualmente sobre as destrutivas. Para ela, o conflito entre as pulsões de vida e pulsões de morte é o motor de todo o acontecer psíquico. P 327
Melanie Klein descreveu como os impulsos agressivos podem ser um instrumento para lidar com o desamparo que todo ser humano enfrenta no início da vida. P 328
Melanie Klein humanizou a psicanálise. Mostrou que é a emoção que dá significado e cor às experiências de vida. (...) os seres humanos vivem duas realidades, a externa e a interna, evidenciou quão necessário é o sentido da realidade psíquica, que seria a pessoa reconhecer e assumir responsabilidades pelos próprios impulsos e pelo estado de organização de sua mente. P 328