A educação no século XXI
Fundamentos, História e Estudos de Psicologia

A educação no século XXI



IMBERNÓN, Francisco. Desafios e saídas educativas na entrada do século. In: A educação no século XXI. Porto Alegre: Editora Artmed, 2000, 2ª edição.

Habilidades como a seleção e o processamento da informação, a autonomia, a capacidade para tomar decisões, o trabalho em grupo, a polivalência, a flexibilidade, etc., são imprescindíveis nos diferentes contextos sociais: mercado de trabalho, atividades culturais e vida social em geral. P 25

No entanto, acreditamos que, se os valores estão em crise, não é porque estejam desaparecendo junto com a tradição, ou porque o sistema social imponha-se ao indivíduo. A crise surge pela inexistência de uma única forma de vida e pensamento, porque as tradições têm que se explicar e porque a informação não é um terreno restrito aos especialistas. P 25

Habermas (1987) desenvolve uma teoria da competência comunicativa na qual demonstra que todas as pessoas são capazes de se comunicar e gerar ações. Todos nós possuímos habilidades comunicativas, entendidas como aquelas que permitem comunicarmo-nos e atuarmos em nosso meio. Além das habilidades acadêmicas e práticas, existem habilidades coletiva que buscam coordenar ações por meio do consenso. P 29

Centrar as expectativas educativas na finalidade das carreiras curriculares implica necessariamente impedir o acesso ao desenvolvimento social dos grupos sociais desfavorecidos. P 31

As comunidades de aprendizagem partem de um conceito de educação integrada, participativa e permanente. Integrada, porque se baseia na ação conjunta de todos os componentes da comunidade educativa, sem nenhum tipo de exclusão e com a intenção de oferecer respostas às necessidades educativas de todos os alunos. Participativa, porque depende cada vez menos do que ocorre na aula e cada vez mais da correlação entre o que ocorre na aula, em casa e na rua. Permanente, porque na atual sociedade recebemos constantemente, de todas as partes e em qualquer idade, muita informação, cuja seleção e processamento requerem uma formação contínua. P 34

Construir o futuro, no sentido de prevê-lo e de querer que seja um e não outro, só é possível a partir dos significados que as imagens do passado e do presente oferecem-nos. P 38

A realização do tempo que nos resta por viver está fundamentalmente amarrada às condições do presente, embora também aos desejos que guiam as ações com as quais concluiremos o tempo por vir. Desejos que não nascem do nada, mas que, mesmo voltados para o futuro, estão enraizados no passado e no presente. P 38

As respostas que cada um de nós tem para as perguntas do que é, quem pensa que é e como cada um de nós percebe a si mesmo tem muito a ver com a educação recebida. P 40

....A educação moderna traz consigo a promessa de libertar o homem das limitações de sua origem.... p 44

...O passado cultural é a fonte do presente e o material substancial do futuro ao ser refeito no presente. Não há futuro sem raízes previamente assentadas sobre as quais se erguer. P 45

Talvez seja este aspecto no qual mais diretamente se centre a crise mais visível do pensamento moderno em educação: a perda da sensibilidade para com a igualdade e a solidariedade, que é em si o modelo da educação pública. P 53

Na pós-modernidade, como condição dos tempos que estamos vivendo, não há lugar para utopias fechadas que profetizam um tipo humano novo e uma sociedade ideal. As utopias universais são tidas hoje como estáticas, aniquiladoras das individualidades, homogeneizadoras e até perigosas por serem tirânicas. As grandes narrativas (em torno de valores universais, como verdade ou a moral, o homem universal irmanado com todos os seus semelhantes, um mundo regido pela racionalidade da ciência, a sociedade industrializada que distribui bem-estar com pleno emprego, a revolução libertadora e igualitária, os Estados como organização vertebradora de povos e culturas, a educação como recurso de mobilidade social, etc.) mostraram seu rosto oculto e sua inoperância no alcance aos bens prometidos. P 54-55

Desde que se é consciente da transcendência dos sistemas educativos, vem-se falando de crise neles. Tanto mais quanto for a relação existente entre o sistema educativo e o produtivo, isto é, quando a educação passa a ser capital humano. P 55

Será desafio do futuro conseguir que o lugar criado na vida de todos os sujeitos pela educação institucionalizada seja preenchido com fins com sentido próprio. A sociedade que irá trabalhar menos (Gorz, 1995; Rifkin, 1996) precisará mais da educação para utilizar o tempo livre como meio de melhorar a qualidade de vida. P 59

.....se pense necessário fazer, que trabalhar pela educação como paidéia para todos, como construção do ser humano, pela obtenção da verdade, pelo exercício da racionalidade, pela autonomia e liberdade das pessoas, pela justiça e pela solidariedade, pelo bem e pelo gozo da beleza. P 60

...ofracasso escolar seria melhor entendido dentro das dinâmicas políticas, sociais e econômicas de pobreza, carência de trabalho, sexismo, racismo e discriminação de classes (classismo) e fundos desiguais.... p 66

Atribui-se o fracasso escolar, especialmente o fracasso de estudantes de coletividades minoritárias, à falta de uma inteligência codificada geneticamente, uma cultura de privação ou, simplesmente, a uma patologia. P 66

...esse modelo não só não consegue reconhecer como estão entrelaçados os assuntos de raça, gênero, idade, orientação sexual e classe, mas também se nega a reconhecer a função pedagógica da cultura como lugar em que as identidades são construídas, os desejos são mobilizados e os valores morais são formados. P 66

A cultura é o campo social no qual o poder muda repetidamente, as identidades estão constantemente em trânsito e o indivíduo, freqüentemente, se situa onde menos se lhe reconhece. P 70

Aqui não somente se arrisca unir a pedagogia crítica a práticas que são interdisciplinares, transgressoras e opostas, mas também se arrisca conectar tais práticas com projetos mais extensos, planejados para melhorar a democracia racial, econômica e política. P 71

...exige que os professores levem a sério sua própria política e entrem na esfera pública para envolver-se nos assuntos sociais urgentes... p 73-74

Porém, trata-se de um discurso apenas formal, já que a realidade dos últimos anos propiciou justamente o contrário: um aumento do tecnicismo, agora mascarado com argumentos pós-modernos; uma falta de compromisso político com a luta democrática e uma maior racionalidade burocrática nas instituições educativas. P 79

...devemos ser particularmente sensíveis às tradições e aos valores das minorias étnicas e culturais, analisar o fracasso e a exclusão educativa e social dessas minorias. P 80

...os professores vêem-se incapazes para fazer entender e interpretar essas novas formas com toda a sua complexidade em uma sociedade do conhecimento dirigida para uma sociedade de risco na qual a comiplexidade, a dinâmica multirrelacional e a diversidade de interesses podem provocar dilemas difíceis de serem resolvidos. P 80

...a instituição educativa necessita da inter-relação e da participação de toda a comunidade se não se quer excluir ninguém do direito à educação, à liberdade e à felicidade. P 80

O desafio para o futuro consiste em encontrar novos componentes que voltem a legitimar um sistema educativo democrático. P 81

...a “norma” escolar não foi pensada e desenvolvida para acolher a diversidade de indivíduos, mas para a integração passiva, para a padronização. Sendo assim, refletir sobre a educação para o futuro pode supor a proposição de modificações significativas da instituição educativa e das relações que nela se produzem. Enfim, dever-se-á abordar com seriedade a reestruturação do processo educativo institucionalizado. P 82

...a atenção à diversidade deve ser entendida como a aceitação de realidades plurais, como uma ideologia, como uma forma de ver a realidade social defendendo ideais democráticos e de justiça social. P 83

O ensino, como sistema institucional, tem sua própria história e deixa sua marca em uma “tradição” e em uma “cultura de fazer as coisas” que é difícil de mudar mesmo que suas conseqüências possam ser, obviamente, negativas. P 83

Cada pessoa é diferente pela interação entre o que é (nível intelectual, motivação, interesse, existência acumulada, conhecimentos, etc.), de onde vem e onde está (situação social, fatores sociais, ambientes e meio, etc.). No entanto, as respostas para poder solucionar o problema da segregação das pessoas em todos os seus graus e para conscientizar os alunos no respeito a essa diferença ainda estão pendentes neste momento, na porta de entrada do século XXI. P 84

...a realidade supera o âmbito da instituição escolar, e as conseqüências sociais da não-diversidade são: racismo, xenofobia, intolerância. A não-diversidade já não reflete apenas aquela “anedota” de pequenos confrontos na rua ou nos pátios das escolas, entre culturas diversas, mas assume características de verdadeira tragédia e de vergonha, seja porque se trata de racismo induzido pela pobreza e pela marginalização, seja pela ideologia. Devemos evitar a todo custo o furacão dos ódios, a vertigem dos fracionamentos. P 84

Adaptar o ensino à diversidade dos sujeitos que convivem nas instituições educativas não é tarefa simples, e o êxito nos resultados dependerá em grande medida da capacidade de agir autonomamente, tanto por parte dos professores como da comunidade e dos alunos e alunas sujeitos desse processo. P 85

A participação da comunidade é imprescindível para tornar possível o trabalho no campo da diversidade, (...). A escola deve abrir suas portas e derrubar suas paredes não apenas para que possa entrar o que se passa além de seus muros, mas também para misturar-se com a comunidade da qual faz parte. P 85

Paralelamente, deveria ser realizado um exame prévio individual do trabalho na aula (linguagem, atitudes, livros, comentários, etc.) e também coletivo (agremiação, trabalho em grupo, atividades conjuntas, comunicação, projetos, criação de grupos para temas de diversidades, etc.); e a mesma coisa sobre o contexto (participação, grupos, famílias, relações sociais, tribos, publicidade, meios de comunicação, etc.). Aceitar a diversidade possui muitas e complexas implicações: p 85

...começar a mudar muitas coisas, entre elas a valorizar e a fazer com que se valorize a humanidade realmente como ela é: um conglomerado de diferenças, de culturas, de etnias, de religiões, de conhecimentos, de capacidades, de experiências, de ritmos de aprendizagem, etc., que é precisamente uma das características que nos define como seres humanos. P 86

...a análise específica da realidade educativa e social deve permitir compartilhar a experiência humana, possibilitando o aprendizado dos demais, e, respeitando os alunos, levar em conta suas características específicas e compensar as diferenças que são discriminatórias, buscando fórmulas educativas diversas que não prejudiquem a auto-estima dos alunos e não causem segregação, nem hierarquização. P 87

....a instituição educativa necessitará do apoio de uma comunidade que tenha consenso ideológico (não apenas dos pais, mas também das empresas, das ONGs, dos movimentos sociais, dos voluntários, das associações, dos aposentados, etc,; é o que começa a se chamar o quarto poder econômico), porque os professores irão sentir-se impotentes para educar os meninos e as meninas nos valores (solidariedade, honestidade, sinceridade, senso crítico, etc.) que estarão em franca desvantagem frente aos que imperam na sociedade (individualismo, competitividade, violência, conformismo, desinformação, etc.). p 92-93

Após fracassar na tentativa de convencer a sociedade de que as drogas eram a causa original de todos os problemas sociais, a administração desviou sua atenção para outro inimigo: o terrorismo. Com a diminuição do terrorismo em todo o mundo, a gora encontramos um inimigo duradouro: a imigração ilegal. P 107]

Desse modo, a reforma da assistência social para os pobres é uma palavra com efeito positivo para a grande maioria dos indivíduos da classe média branca, sob seu ponto de vista, manter indivíduos “folgados” que são pobres porque não querem trabalhar. Ao contrário, quando alguém observa que uma alta porcentagem de seus impostos serve para manter o bem-estar dos ricos, levanta-se em grito uniforme, imediato e agressivo: nos Estados Unidos, não existem razões para que se incite uma luta de classes. P 108-109

Esses políticos acertam ao afirmar que nos Estados Unidos se pôs em andamento a luta de classes; no entanto, é uma luta de classes contra as classes média e pobre, não contra a rica, como sustentam as citadas declarações. P 109

Segundo Scott Davies e Neil Guppy, um dos dogmas centrais do argumento neoliberal é que as escolas devem pôr sua política e suas práticas em consonância com a importância do conhecimento como forma de produção. P 123

A econometria é uma pseudociência ideada para promover o lucro a todo custo. Como observa Joel Spring, Hayek desenvolveu uma nova forma de totalitarismo em que o indivíduo é controlado para assegurar as condições favoráveis do mercado. P 127

Muitas das práticas literárias nas escolas atuais estão unidas funcionalmente a essa nova economia mundial (tal como “a aprendizagem cooperativa” e o desenvolvimento das “comunidades de estudantes”) e promovem uma relação oportuna entre o novo capitalismo rápido e a ciência cognoscitiva convencional. P 128

A pedagogia crítica à qual me refiro deve ser menos informativa e mais performativa, menos orientada para questionamento de textos escritos e mais baseada nas experiências vividas pelos próprios alunos. (...). Peço uma pedagogia em que se observe uma ética revolucionária multicultural (a que vive nas ruas). P 137

As crenças iluministas sobre o cidadão transformaram-se em uma entidade de reflexão política, administração social e racionalidade científicas. O bom cidadão, o bom membro de família, o bom trabalhador, a boa pessoa foram construídos através de práticas administrativas dirigidas para ajustar e dar forma ao cidadão. P 144

Hoje em dia, a idéia social, coletiva, de uma nação e de sua cidadania vê-se confrontada com pressões provenientes de minorias, com questões de igualdade racial, assim como com modelos migratórios e demográficos mutantes em cada região. P 157

As lutas sobre questões de identidade que se produz agora nos casos dos direitos das minorias e da mulher, por exemplo, originam novas exclusões e zonas tabu, ao chocarem-se noções monolíticas de identidade com aquelas dos que estão convencidos de que as identidades são heterogêneas. P 159



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