A teoria psicogenética de Henri Wallon
Fundamentos, História e Estudos de Psicologia

A teoria psicogenética de Henri Wallon


BASTOS, Alice Beatriz B. Izique. A construção da pessoa em Wallon e a constituição do sujeito em Lacan. Petrópolis: Editora Vozes, 2003, 152 p

...construção da pessoa na psicogenética walloniana (...). ...relaciona-se a um processo mais gradual, semelhante à edificação e ao modo como a personalidade se prolonga no tempo. P 13

Wallon não pressupõe a existência do inconsciente e nega a ênfase dada por Freud à sexualidade infantil. P 13

Wallon ressalta o papel fundamental das emoções para constituição do psiquismo,... p 15

Falar em construção da pessoa ou em constituição do sujeito é outorgar um papel fundamental para o sistema simbólico, para a linguagem e para os próprios conflitos, que vão nos orientar em busca de um “sempre mais além”. Em Wallon, esse mais além pode ser compreendido como inacabamento de um eu, que não cessa de buscar sua diferenciação ao longo da evolução humana.... p 15-16

A teoria de Henri Wallon (...) destaca o papel primordial da emoção (...). É por meio da emoção que se dá a passagem do orgânico ao social, do fisiológico ao psíquico. P 19

...Quando a afetividade prepondera sobre a inteligência, a pessoa passa a se voltar mais para a edificação de seu eu, de sua personalidade, num movimento centrípeto. Já quando a função da inteligência é predominante, o movimento volta-se para o exterior, para a exploração dos objetos e do conhecimento, tendo uma orientação centrífuga. O mais interessante é que entre as funções sempre existe um conflito, na medida em que uma pessoa precisa ser reduzida para que outra possa preponderar. P 19

A afetividade e a inteligência tem influências recíprocas, sendo que a evolução de uma provoca alterações significativas na outra. P 20

Grande ênfase é dada ao meio social e para as interações com o meio, pois é pelas interações que o sujeito vai se construir. P 20

Wallon concebe o social, mais especificamente a necessidade do outro, da interação com ele, como algo que se inscreve no orgânico. P 20

O meio social é a condição do desenvolvimento das capacidades biológicas, e na perspectiva genética é possível apreender como o orgânico se torna psíquico.[...]...o meio tem um papel primordial. P 21

A utilização do termo pessoa total ao longo de sua obra enfatiza a importância de se conceber a pessoa de forma integrada. O orgânico, assim como o psíquico, são investigados em suas relações recíprocas, da mesma forma que as relações do homem com o seu meio. P 21

A teoria walloniana, ...(...). Além de propor a integração dos principais campos funcionais (afetividade, inteligência e motricidade), está fundamentada no materialismo dialético, ... p 22

A psicogenética walloniana coloca em relevo a idéia do conflito como mola e motor da evolução. É o conflito que move a pessoa na busca de uma maior e melhor diferenciação de si e do conhecimento. A contradição e o conflito ocupam grande parte da obra de Wallon e as leis do desenvolvimento também evidenciam o papel das contradições e dos conflitos que possibilitam as transformações e os progressos da pessoa. P 23

A alternância das funções, afetividade e inteligência, já pressupõe a necessidade de um enfrentamento, pois para que uma delas possa assumir a preponderância é necessário que a outra reduza seu poder e sua influência para possibilitar um novo ponto de partida ao desenvolvimento. P 23

Tanto as influências do meio como o processo de maturação são os grandes responsáveis pela evolução psíquica da criança. P 24



Wallon mostrou um grande interesse pela Educação, pelas implicações da Psicologia e da Pedagogia, pelos debates a respeito da Escola Nova.... Ao romper com o ensino tradicional, no qual o professor era considerado o grande detentor do saber, a Escola Nova irá se diferenciar prioritariamente para buscar os interesses dos alunos, deixando um pouco de lado a importância da intervenção do educador como mediador do conhecimento, o que na opinião de Wallon é fundamental. P 25

A Escola Nova é considerada como o contexto privilegiado para o estudo e a observação da criança. P 25

O olhar walloniano.... Parte do pressuposto de uma investigação, orientada no sentido de privilegiar questões de observação...[...]. busca as contradições, os conflitos, as rupturas, nos diferentes momentos do desenvolvimento. p 26-27

Não basta observar, é preciso contextualizar as observações, buscar estabelecer relações entre elas, ampliar a análise para que se possa compreender melhor os comportamentos inseridos num determinado contexto e sua influência sobre eles. P 28

Por meio dos estudos de Wallon podemos perceber o quanto é precioso cada movimento, cada gesto, cada expressão, e desta forma, é fundamental que estejamos sempre atentos para eles, que são ricos instrumentos e nos dão inúmeras pistas para um momento posterior de análise. P 28

...o bebê sente a presença das pessoas, principalmente das que cuidam dele, e reage a elas de forma predominantemente emocional. (...).O olhar walloniano sobre o comportamento predominantemente emocional do bebê humano coloca em relevo o poder da inscrição do orgânico sobre o psíquico,... P 29

A teoria enfatiza o intenso movimento de construção de um eu, ainda frágil, que luta para afirmar-se pela oposição ao outro, pela busca de admiração e de reconhecimento, e pela tentativa de incorporação do outro por meio da imitação. P 30

Ao tentar diferenciar-se do outro, a criança esbarra em uma série de exigências, de desafios, de surpresas, com os quais tem de lidar ou as quais precisa solucionar. (...). O conflito característico do personalismo aponta para a busca de independência, ao mesmo tempo em que há uma necessidade de proteção. P 30-31

Outra característica importante da emoção é o seu poder de contágio, por meio do qual o contato é estabelecido pelo mimetismo ou por contrastes afetivos. (...). O impacto afetivo causado pelas manifestações da criança provoca um verdadeiro contágio emocional nas pessoas, que, conseqüentemente, passam a imprimir uma significação a elas. É a partir desse momento que começa a se estabelecer um circuito de trocas mútuas entre a criança e o meio, que possibilita a correspondência entre os próprios atos e os respectivos efeitos. P 47

A emoção é, então, o ponto de partida do psiquismo, da consciência e da vida social, uma vez que é através dela que vão se estabelecer as primeiras trocas da criança com o meio humano. P 48

Wallon (1968) afirma que as emoções são a exteriorização da afetividade, que elas tornam possível o desenvolvimento de meios de expressão cada vez mais complexos e, ainda, transforma-os em instrumentos de sociabilidade cada vez mais especializados. À medida que se tornam mais elaborados e precisos, o seu significado passa a ter maior independência e, conseqüentemente, separam-se da emoção. P 48

ESTÁGIOS DO PSIQUISMO OU PERSONALISMO: .....emoção, ....representação, ... e imitação.

O eu, para se constituir, precisa diferenciar-se do outro, libertar-se gradualmente do sincretismo e adquirir a noção do próprio corpo, para, só assim, processar a consciência de si. A noção do próprio corpo também se constitui por etapas e para adquiri-la é preciso que se realize uma distinção entre os elementos atribuídos ao próprio corpo e os demais diretamente relacionados com o mundo exterior. P 50-51

O advento da representação é fundamental para que a criança possa identificar sua personalidade e a dos outros, ultrapassando o espaço de suas percepções e realizando a aptidão simbólica de desdobramento e de substituição; condição para o nascimento do pensamento e da pessoa. P 51

Ao mesmo tempo em que se afirma perante o outro, opõe-se a ele e mostra um claro desejo de apego às pessoas que a cercam e com as quais passa a se identificar. A imitação marca o terceiro momento do personalismo, por meio da qual a criança escolhe os adultos que ela admira e busca imitá-los e assimilá-los dentro de si mesma. P 52

...o movimento de identificação e dissociação da personalidade se orienta predominantemente pela busca de independência e de autonomia, passando pela oposição intensiva ao outro, depois pelo exibicionismo e, num terceiro momento, buscando substituir e incorporar o outro em si mesmo. Para constituir e enriquecer o eu, é necessário diferenciar-se do outro para afirmar-se a si próprio. Ao mesmo tempo, é preciso identificar-se com as pessoas que são admiradas para buscar “introjetá-las” em si. Assim, a constituição da personalidade é permeada por conflitos, antagonismos e verdadeiras crises, que reaparecem com grande intensidade no período da adolescência. P 52

A criança passa a se colocar a questão do seu eu em relação aos outros, e a partir das relações que estabelece com a sua família pode construir uma referência de conjunto, no qual tem um lugar e um papel específico. Dentro da constelação familiar aprende a se situar em relação aos outros irmãos, aos pais, como um elemento fixo e, aos poucos, toma consciência da estrutura familiar. Ao mesmo tempo em que se sente muito solidária com a família, está buscando intensamente sua independência. P 53

O estágio da puberdade e da adolescência é caracterizado por uma crise na qual as exigências da personalidade passam novamente para o primeiro plano. Nesse momento, o que predomina são as necessidades do eu e as preocupações da pessoa. P 54

Na puberdade, devido às inúmeras modificações pelas quais passa seu corpo, a criança desorienta-se em relação a si mesma tanto no que relaciona com o seu físico como com o seu ponto de vista moral. [...]. A vida afetiva, nesse momento, torna-se muito intensa e existe um forte desejo de mudança acompanhado de um descontentamento associado à sensação de desorientação, fazendo com que o jovem acabe não sabendo para onde se voltar, por que estrada trilhar. P 55

O desejo de ultrapassar a vida cotidiana, de se unir a outros jovens que compartilhem desse anseio, a necessidade de fazer escolhas, marcam a tomada de contato com a sociedade e assinalam uma evolução decisiva da pessoa. [...]. A personalidade adulta vai se construir a partir dessa inquietude, ... p 55

É fundamental esclarecer que Ana psicogenética walloniana a pessoa ´um projeto inacabado que estará sempre lutando para construir-se a reconstruir-se, tendo como proposta principal alcançar cada vez mais e melhor a diferenciação de seu eu e de sua personalidade. P 56

A pessoa vai se construindo ao longo de sua evolução, tendo na emoção a origem do seu psiquismo. À emoção estão intimamente relacionados os processos de fundo exclusivamente orgânicos, ou seja, as descargas impulsivas provenientes das necessidades fisiológicas do bebê humano. P 56

....é por meio das interações com os outros que as manifestações expressivas se exteriorizam, tornam-se cada vez mais intencionais e, pelo seu caráter expressivo, podem ser interpretadas pelo ambiente e por ele influenciadas. P 56

Apesar de a relação de semelhança entre a imagem e o modelo ser percebida, ainda não é possível reduzir uma à outra e, conseqüentemente, atribuir uma realidade independente a ambas. [...]. A representação do próprio corpo só pode se formar exteriorizando-se e precisa da distinção das partes de seu corpo, do distanciamento da experiência imediata e das representações das coisas para isso. Tal aprendizado é conseqüência do contínuo exercício de aprender seu próprio corpo em relação aos demais, da utilização de analogias e assimilações e da diferenciação que gradualmente se estabelece entre os diferentes aspectos, para que a representação de si possa ser adquirida. P 58

Evidencia-se, assim, a complexidade envolvida no processo de conscientização do eu corporal, uma vez que esta pressupõe um nível mais evoluído de atividade intelectual e capaz de realizar uma verdadeira transposição mental. P 58

A consciência corporal é a condição fundamental para o início da consciência de si, pode-se dizer que é o prelúdio da construção da pessoa que contempla necessariamente a diferenciação eu-outro. P 59

O eu seria conhecido por intermédio da intuição, enquanto o outro, por analogia. P 59

...na teoria walloniana a consciência irá ser construída ao longo da evolução em uma orientação clara para a progressiva diferenciação de si. P 60

As influências entre o eu e o outro são recíprocas e variam de acordo com as situações, com as necessidades próprias dos diferentes momentos de evolução. P 60

Quando Wallon se refere aos vários “Eus”, ele os está relacionando com os diferentes momentos da evolução e afirmando que se trata de um único Eu, que se diferencia e complexifica-se cada vez mais e melhor. P 61

Assim como o Eu, durante o seu processo de constituição, vai apresentando diferentes aspectos e funções ao longo da ontogênese, o Outro também vai se modificando, na medida mesmo da sua íntima e recíproca conexão com o Eu. P 61

...podemos perceber que o ciumento intensifica os seus sentimentos ao perceber mais claramente os supostos prazeres do Outro. P 62

Na teoria psicogenética, os diferentes momentos da evolução humana são marcados pela alternância entre as funções da inteligência e da afetividade, na medida em que cada uma delas passa a ser preponderante em cada etapa do desenvolvimento. Após o estágio do personalismo, predominantemente voltado para o enriquecimento do Eu e orientado pela função da afetividade, ocorrerá uma inversão funcional que introduz uma nova diferenciação, dessa vez mais relacionada ao desenvolvimento do próprio pensamento. P 62

...a criança necessita primeiro afirmar-se como um corpo, um eu corporal, para depois perceber-se como uma imagem refletida, exteriorizada, que aos poucos toma a forma de consciência de si. P 64

...o advento da representação é fundamental para que seja possível identificar a própria pessoa e a dos outros, ultrapassando o espaço das percepções e realizando a aptidão simbólica de desdobramento e de substituição. P 64

O estágio do personalismo é marcado por três momentos distintos: a oposição, a sedução e a imitação.A oposição intensa, e muitas vezes sem motivo aparente, precisa ser compreendida como busca de afirmação de si, de uma personalidade em construção, de um eu que apenas está iniciando sua diferenciação com o outro. P 65

A distinção do eu e do outro aparece de início em relação aos objetos, expressando-se na forma do teu e do meu. È em relação aos objetos que inicialmente fará a discriminação e lutará para obter a posse dos mesmos. P 65


Logo depois da fase inicial de oposição surge a sedução, ou “idade da graça”. A criança agora precisa ser admirada, sentir que agrada aos outros para poder se admirar também. (...). Ao mesmo em que se afirma perante o outro, opõe-se a ele e mostra um claro desejo de apego às pessoas que a cercam e com as quais passa a se identificar. P 66

Nesse momento a criança torna-se não só competitiva, mas ciumenta. Precisa ser prestigiada, mostrar que possui qualidades para serem admiradas, mostrar-se no que ela acredita poder agradar aos outros e ter exclusividade de atenção. P 66

A imitação marca o terceiro momento do personalismo, por meio da qual personagens são criados a partir das pessoas que a criança admira e que deseja substituir em si mesma. Ela não se basta mais com suas próprias qualidades e passa a cobiçar as dos outros, querendo-os como modelos. P 66

...para constituir e enriquecer o eu, é necessário diferenciar-se do outro e afirmar-se a si próprio. Ao mesmo tempo, é preciso identificar-se com as pessoas que são admiradas no sentido de buscar internalizá-las em si. As relações da criança co as pessoas com as quais convive são marcadas por influências recíprocas, podendo ser consideradas como ocasiões ou motivos para ela se exprimir. Ao conferir-lhes existência fora de si, torna-se possível a distinção do eu e do outro, que é seu complemento indispensável. P 67

Ao tomar consciência de sua pessoa distinta do outro, confirmá-la, a criança vai buscar compreender a sua posição nas relações com os outros e, (...). Ao mesmo tempo em que se sente muito ligada à família está buscando intensamente sua independência. (...). Enquanto busca a independência tem necessidade de se assegurar do afeto dos outros. P 68

O eu que está sendo conquistado ainda é frágil e para poder construir-se necessita passar por esses três momentos distintos e complementares, que são o extremo negativismo marcante no início do personalismo, a sedução que necessita da admiração das pessoas às quais está ligada afetivamente e, por fim, a imitação para poder internalizar as qualidades e as competências das pessoas queridas no próprio eu. P 68



A escola é um meio para a constituição dos grupos, que são os indicadores das práticas sociais. Wallon (1979), ao estudar a influência dos grupos na evolução do sujeito, afirma que estes são importantes para a aprendizagem social da criança, para o desenvolvimento de sua personalidade e para a consciência de si própria. Na sua inserção no grupo, a criança se depara com duas exigências básicas: identificar-se com o grupo na sua totalidade, com os interesses e aspirações de seus integrantes, e diferenciar-se dos outros, assumindo um papel determinado. P 68-69

...a partir do momento em que a pessoa passa a ter consciência de si, podemos dizer que um novo personagem entre em cena, configurando-se como um outro eu, uma subdivisão, bipartição íntima, denominado socuis. P 69

O socius é o companheiro permanente do eu e exerce uma função de intermediário entre o mundo interior e o exterior, muitas vezes funcionando como confidente, conselheiro ou censor. P 69

Pensar a pessoa na psicogenética walloniana implica compreendê-la no seu contexto sociocultural, biológico, e integrada pelas funções da afetividade, da inteligência e do ato-motor. P 69

O advento da representação é fundamental para que seja possível identificar a própria pessoa e a dos outros, ultrapassando o espaço das percepções e realizando a aptidão simbólica de desdobramento e de substituição; condição para o nascimento do pensamento e da pessoa. P 70

Graças `aptidão simbólica, a criança pode elaborar mentalmente o espaço, distribuir os objetos no espaço e no tempo, representá-los e estabelecer signos para as representações. A passagem do ato-motor ao ato mental, da inteligência das situações à inteligência discursiva, mostra não só uma evolução em relação à espacialização como também uma tendência para fixar imagens. P 72

Wallon destaca o papel fundamental da imitação para o advento da representação, afirmando que as etapas sucessivas da imitação possibilitam que a representação, que ainda não existia, possa formular-se. P 72

...a presença do outro, o seu olhar, a sua escuta, e a oportunidade de interagir com a criança são condições fundamentais para a evolução de seu psiquismo. P 75


O reconhecimento da própria imagem no espelho tem como condição a capacidade de simbolização e de percepção espacial. O acesso à função simbólica e à capacidade de representação encontra-se intimamente ligado ao desenvolvimento da linguagem e às etapas sucessivas da imitação. P 80

Ao brincar, a criança se coloca no lugar do outro, desempenhando ações semelhantes, mas sem precisar tê-lo em presença, uma vez que já pode representá-lo na ausência, mostrando assim uma nova capacidade de assimilar o outro, seus respectivos papéis e a própria realidade. P 81

Para construir sua personalidade, a criança precisa diferenciar-se do outro e opor-se a ele. O educador, no momento da roda, poderia propor que as crianças conversassem entre si, falassem de seu cotidiano, de sua vida fora da escola, que pudessem se identificar e ao mesmo tempo se diferenciar das outras crianças. P 84

__________________ LACAN_____________________

(sobre o pensamento de Lacan) ....A razão de ser da constituição passa a ser procurada nas relações do sujeito consigo mesmo, do sujeito como um outro, dele com sua exterioridade. A atividade diante do espelho toma um sentido de uma pesquisa de si feita pela própria criança. (...). É por meio da imagem que o sujeito vai se constituir. P 93

(para Lacan) .... A criança não projeta no espelho a sua imagem, e o que ela vai introjetar é a imagem que a própria família construiu para ela. Com isso quero dizer que o que vai ser determinante na imagem especular é o seu caráter ilusório, falso, contornado pelos desejos e ideais alheios. É essa identidade alienante que marcará o psiquismo da criança, na medida em que ela vai ocupar o lugar do desejo dos pais e ao introjetar a imagem especular, ela passa a assumi-la como se fosse sua. P 103

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Penso que a psicanálise pode subsidiar a Educação, ampliando a visão do educador sobre os processos psíquicos, alertando-o para uma nova e revolucionária dimensão do sujeito humano, que é o inconsciente, o lugar no qual se produz um sentido mesmo sem sabê-lo. P 119

Uma situação bem comum nas escolas é aquela em que as crianças buscam repetidas vezes sair da sala para fazer xixi, como uma forma de escapar da monotonia das atividades e buscar prazer em outra coisa. Os professores, por sua vez, constatam o fato mas não admitem, e nem sequer tentam compreender, o que acontece na sala de aula que faz com que as crianças queiram sair a toda hora. P 120

Os adultos tentam interpretar as ações das crianças e tecem para elas uma série de expectativas e desejos. As crianças, por outro lado, jogam com essas imagens e acabam ficando capturadas por elas, acreditando que são o que os pais, os educadores, pensam sobre elas. P 120

Os educadores acreditam que, por terem um conhecimento teórico sobre as crianças, é possível conhecê-las e saber como pensam. Isso é um engano, pois cada criança tem sua singularidade própria, um jeito diferente de lidar com esse jogo de expectativas e de desejos. É por este motivo que é fundamental resgatar a palavra da criança, para possibilitar que ela venha a ser mais sujeito do que objeto. P 121

Lacan critica a Pedagogia e a Psicologia, pois acreditam no saber completo e total, no saber universal, diferente da Psicanálise, que reconhece que o saber é incompleto e que é tecido a partir da linguagem e da fala. P 121

Tanto a família como os educadores “jogam” suas expectativas em cima das crianças, que precisam ter chance de escapar desse aprisionamento, ou mesmo da classificação dos estágios de desenvolvimento, para assim poderem ter uma fala própria. P 121

A mesma criança “boazinha” precisa ter espaço para poder ser diferente, expressar um desagrado pela professora ou pela atividade sem deixar de ser reconhecida, mas em um lugar diferenciado. Ou mesmo o aluno que sempre faz bagunça, atrapalha os colegas, não se concentra, precisa ser ouvido, ter novas oportunidades para agir e se expressar de forma diferente, e não ficar rotulado como “o aluno chato que só atrapalha”. P 121-122

É importante demarcar que o educador deve respeitar as escolhas das crianças sobre suas ações, sobre as parcerias que procura estabelecer, ou não; e até pelo seu silêncio, que não deixa de ser uma forma de expressão. As interações são fundamentais, mas é necessário que a criança possa optar por ficar sozinha e desenvolver suas próprias ações, observações, ou um distanciamento momentâneo dos outros. P 123



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